domingo, 22 de junho de 2008

NADA


Nenhuma coisa. A não existência. O que não existe. Coisa nenhuma. Nenhum valor. Coisa vã, nula.

De tão recriminado, esquecido, por ser tão desvalorizado e por não existir, o cronista, sem nada na mente, nada a fazer, resolve falar sobre o nada. Sim, ele mesmo, o nada. Seria ele (ou seria ela?) mesmo isso que foi descrito na definição do primeiro parágrafo?
Ele poderia ser um substantivo comum, usado usualmente e banalmente. Ou então um adjetivo, feito para definir algo desprezível, quase imperceptível (ex: Eu sou um nada). Pode ser também uma unidade de medida ou de valor (ex: Ele correu para o meio do nada; Não tenho nada na carteira). Pode até ser verbo, conjugado na terceira pessoa do singular do presente do indicativo. Pode ser ainda um monte de coisa que não estou lembrando. Só não pode ser nada.
O termo torna-se peculiar por ir contra a sua própria natureza, a sua existência. O nada nunca poderá ser o nada, por simplesmente já ser o nada. Ou então, o nada não é nada, já que ele existe. E como existe. Sempre presente nos momentos ociosos, ele é uma espécie de companhia nos momentos vagos. Está presente na rotina e também no meu bolso, sempre quando quando quero comprar algo. O que seria do ocaso, do inusitado e do inesperado, se não existisse o nada? É a partir dele também, que surge a melhor das inspirações. É uma aternativa de defesa, uma decisão. O nada pode até (não) ser nada. Mas é a partir dele que surge tudo.
Eu falo tanto "nada nada nada". Mas o que vocês, leitores achariam se eu deixasse isso aqui sem nada? O que fariam meus amigos e companheiros que escrevem comigo neste blog, se nada partir de mim? Me forço a isto e uso o termo em meu favor neste momento, para justamente não deixar essa página em branco. Sim, o nada me ajudou a produzir algo. Não é por espontânea vontade, é por condicionamento mesmo. Nem sempre isso acontece, mas é desesperador quando o nada resolve vir te fazer companhia. Mas desta vez, ele não conseguirá me vencer, pois estou aqui explanando-o, mostrando a todos do que ele é e o que ele pode ser capaz.
Digo isso a vocês, meus amigos, por ter ficado aqui na frente dessa tela, sem saber o que digitar. Por alguns momentos ter essa agonia de ter que escrever algo, mas no momento crucial, não vir coisa nenhuma. Por odiá-lo quando ele resolve esfoliar a minha mente sempre nos momentos que eu menos desejo e mais preciso. Por não saber direito o que ele é, de onde ele vem... Por saber que chegarei a ele, nessa tentativa frustrada de definí-lo. E me afastarei dele também. Por me identificar com ele, pois é possível constatar a nossa insignificância diante de um mundo onde tudo acontece e não há espaço mais para aquilo dito como nada. Por ninguém o desejar e todos o repudiarem, pois quem é e não tem nada, está fadado e associado ao fracasso. O nada foi minha salvação de hoje. Não sei até quando ele me ajudará. Não sei se ele voltará a me atrapalhar mais ainda.
E quer saber? Agora eu vou-me embora. Chega de fazer vocês lerem sobre o nada. Saiam daqui e voltem para as suas rotinas de executar o nada. É o que vocês deveriam fazer. É o que farei neste momento. Eu também tenho o direito de exercer o nada.

domingo, 15 de junho de 2008

Quem é Pseudo?

Pela definição formal temos o seguinte: “pseudo = Elemento de composição 1.= ‘falso’: pseudestesia; pseudópode.” Ora, isso todo mundo já sabe, o problema é o uso do termo.
Outro dia estava no MSN, papo vai, papo vem, uma amiga me disse que odeia quem usa a palavra em questão, ta certo, ela só não me respondeu o porquê da rejeição. De repente me veio à mente, o que é ser pseudo alguma coisa?
Pseudo-intelectual, pseudo-culto, pseudo-aristocrático, tudo virou pseudo. Se cairmos num relativismo psicológico, realmente tudo é um falsete. Mas, voltemos à vaca fria. Por que quando um termo, ou algo, cai em uso rotineiro vira motivo de uma “pseudo-rejeição”?
Os que vestem quadriculado criaram uma cartilha Cult e determinaram: tudo o que vira popular é uma merda! A graça é achar bom o que ninguém conhece. Se um “chicleteiro” assistir Felini, pode ter certeza que seus filmes virarão motivo de crítica. Dirão eles: “Não assisto mais isso, o Neo-realismo “aplayboyzou”.”
A expressão pseudo-intelectual também foi assim. Embarcados na emergência de uma nova geração que se diz culta, nossos jovens ganham status quando dizem que ouvem cartola e freqüentam o chorinho de domingo ou a free-session de Jazz de sábado. Não sei o que é pior, os que falam ou os que ouvem e aclamam o fanfarrão. A partir disso, quem fugir ao perfil determinado virou um “pseudo”. “Ai meu deus, tenho que ouvir Chico e ler Nietzsche se não estarei fora do contexto”, deve pensar nossa juventude.
Então, quadriculados de plantão, está expressamente proibido o uso da palavra pseudo, à custa de, se usada, você ser taxado como um alienado pelo sistema. Depois disso eles devem se policiar ao máximo, o xingamento alienado é a morte para eles.
Para eles e para mim. Ora, isso pode ser uma auto-crítica também, porque não? Acho que acabei de digitar um pseudo-artigo, ah mais foda-se! Acho que estou condenado ao pseudo-articulismo.
Porém, nem tudo está perdido, enquanto nosso blog for pouco visitado estaremos dentro da cartilha Cult como algo a ser elogiado, estou com medo é da grande massa de leitores que podem nos seguir, ai estamos fadados a ser um produto popular, vamos “aplayboyzar”, viraremos uma merda, nos tornaremos um pseudo-blog.

terça-feira, 10 de junho de 2008

MANIFESTO CHORUMÉLICO

Chorume - Líquido venenoso que se forma na decomposição do lixo, podendo contaminar o ambiente, se não houver cuidados especiais

Pesquisas indicam que 75% da população é analfabeta funcional, ou seja, não consegue decifrar ao certo o que diz a televisão, os jornais, os livros e até um simples blog. Muitos dos 25% que entendem o que é dito podem falar que esta maioria é, na verdade, sortuda, por não perceber o tamanho das besteiras que são ditas em boa parte desses veículos. Outros tantos preferem fazer vista grossa com tudo que possa atrapalhar sua doce tranqüilidade de plástico.

O que é melhor? Passar a vida cheirando lixo achando que tudo são flores ou deixar-se incomodar com a verdade estampada em seu fedor?

Neste espaço, três jovens jornalistas exercerão essa escolha. Sem purismos, mas com idéias e ideais, com corações e mentes abertas. Sem medo de mergulhar nas lixeiras escondidas em ruelas escuras para trazer à tona toda a sujeira acumulada nos dejetos e sobras, arrumados em sacos nas vielas do esquecimento, no reino das omissões.

Se as palavras têm poder, as cabeças devem guiá-las pelas bocas e papéis até os olhos e ouvidos dos que ainda acham que vale a pena o duelo de idéias, que pensam que o debate é o movimento de cabeças pensantes.

Aguardamos sua participação, sem medo de mexer nas latas de lixo de sua casa, nas dos vizinhos, dos poderosos, dos formadores de opinião, dos famosos, dos ídolos de barro, dos donos da verdade.

Se você não gosta do cheiro, não ponha a mão e tampe o nariz. Mas se você não tem medo, junte-se a nós na caça da verdade escondida nas cascas de banana e guimbas de cigarro no fundo do cesto. Na era da desinformação de massa, vamos juntos espremer cada saco azul até sua última gota de chorume!

O ringue do confronto de idéias está montado!