quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Natal e as Rabanadas.

Você come rabanada sem ser no Natal? E doa seu "suado" dinheirinho fora do mês do Papai Noel?

O Natal é daqueles momentos em que você necessita expressar todo o seu sentimentalismo perante a sociedade. Doa aquelas roupas de merda que você ganhou no último amigo oculto da empresa, aquelas cuecas estilo "Borat" que sua Tia-avó te deu no aniversário e depois disso se sente o "Nelson Mandela" da sociedade, o paladino das causas pobres. É o espirito natalino!

Você passa na rua cumprimenta as pessoas, caso não tenha resposta positiva fica revoltado, "em pleno Natal as pessoas não se falam, que horror né maria?", retruca aquela senhora que o ano todo nunca dá bom dia ao porteiro do prédio.

Ainda tem aqueles dizeres sensacionais, "porra, meu irmão, ano que vem vai ser foda, é o nosso ano cara, quero passar a virada com vocês, to sentindo a vibe". Grande "vibe", aliás não sei que "vibe" natalina é essa. As pessoas se transformam em dezembro? Viram outras? Colocam uma máscara social capaz de escondê-las em uma bolha que fede a hipocrisia?

Fico matutando aqui onde ora "abundo", será que há alguma analogia cabalística entre o mês número 12 e solidariedade? Só pode ser! Os católicos de domingo irão dizer, "ah mas é o nascimento de Jesus". Ótimo, então precisamos de mais 364 messias para fazermos o bem durante todo o ano.

Então, caro leitor, não sinta-se ofendido, sinta-se instigado, instigado a dar um bom dia pelo menos durante todos os dias do seu "arrogante" ano. Jogue o "espiríto natalino" na frigideira, juntamente com suas deliciosas rabanadas, já que os dois são gostosos e fofinhos, mas só aparecem uma vez por ano.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Cinema, Montagem e Imagem.

por Gabriel Mattos

A geração dos nativos digitais se adestrou cinematograficamente. Acostumados ao instantaneísmo da produção moderna, deixou de lado verdadeiras enciclopédias para o entendimento prospectivo da linguagem audiovisual.

A epopéia da cultura de massa norte-americana no pós-guerra começou a construir novos paradigmas, que levados a exibição exaustiva, se tornaram irrefutáveis para análises superficiais do cinema moderno. Os anos 80 e 90 afirmaram a cultura Hollywoodiana de se fazer cinema, os “moleques” da década de 70 (DePalma, Scorsese, George Lucas, entre outros.) calcaram seus nomes de vez no mercado e os folhetins ganham dimensões tecnológicas que enchem os olhos do espectador.

A verdadeira relação entre imagem, signo e mensagem se esvaziou juntamente com a construção de um olhar crítico da sociedade, interseção que constrói uma cinematografia linear comparada a criatividade sem recursos do cinema russo por exemplo.

Etimologia e origem

Tendo gênese na Grécia antiga, a imagem (do latim imago) significa representação visual de um objecto. À teoria de Platão, o idealismo, considerava a ideia (ou idéia) da coisa, a sua imagem, como sendo uma projeção da mente. Aristóteles, pelo contrário, considerava a imagem como sendo uma aquisição pelos sentidos, a representação mental de um objecto / objeto real, fundando a teoria do realismo. A controvérsia estava lançada e chegaria aos nossos dias, mantendo-se viva em praticamente todos os domínios do conhecimento.

A partir disso, seu tratamento se diluiu e se fundiu, tendo como cume um mundo onde todas as suas “vertentes” (som, vídeo, áudio) são quase irreconhecíveis entre si.

Desde a “dúvida” entre Platão e Aristóteles, o estudo da imagem é condicionado a códigos pré-adquiridos pelo homem. Mauro Luciano de Araújo, em artigo “Imagem e Ideologia”, mostra como a bagagem cognitiva individual é fator ímpar para observação. Segundo ele: “A imagem que está numa mediação entre a mente e o objeto, ela transcende o que vemos, é mais do que o que percebemos. A idéia é uma imagem modelo para todas as outras, uma fórmula que possui como exemplo várias outras imagens – e exemplifica essas outras imagens.”

Quando esta imagem ganhou movimentos, a discussão ganhou amplitude. Era a hora de criar uma nova linguagem e uma nova forma de decodificação desses signos, de forma a estreitar e catalisar púberes formas de pensamento na interseção pessoa/imagem.

“A saída da fábrica lumiére”, “ O Regador Regado”, entre outros filmes dos irmãos Luimère, começam a traduzir a realidade do olhar humano em telas, costurando, já naquela época, alguns gêneros e traços eternos do cinema moderno.

Além disso, é consensual o fato da imagem transformada em cinema estar intimamente associada a tradição literária, assim como o advento da fotografia manteve, na origem, forte conexão com a pintura. Todavia, ao firmar-se a parceria deste cinema com a literatura, tem-se o intuito de caracterizar-se um paradoxo, ou seja, as duas modalidades são tão próximas entre si, quanto de si distanciadas. A imagem cinematográfica surge suprindo o que a literatura não poderia jamais alcançar. São, portanto, dois sistemas de codificação. Contudo, quando a imagem vira cinema, para seu bem e para seu mal, acaba se desenvolvendo em duas vertentes, “Cinepoética” e “Cine-estória”, ambas subtraídas de modalidades literárias.

Não obstante, a imagem “pura” (cinema mudo) oferece uma subjetivação semiótica maior, extraindo nova codificação dos sentidos, ao passo que a imagem conjugada com palavras e sons, montam um sistema mais facilmente decodificado.

Somando-se esses aspectos, o “movie” leva a imagem e o movimento à interpretação semiótica e imaginativa de cada um.

Cinema Russo e a Montagem

É senso comum que os anos 20 foram do cinema russo. Sendo um dos mais ricos e experimentais do mundo, serve como um dicionário para grandes diretores como Antonioni e Coppola.
A Revolução trouxe consigo escolas de cinema importantes em Moscou e Leningrado. Expressões naturalistas e vanguardistas, embora carregadas ideologicamente, anunciavam a construção de novos paradigmas nas artes visuais.

“A Greve”, de Eisenstein, inaugura a montagem dinâmica com metáforas visuais e contrastes, na seqüência, o antológico “O Encouraçado Potemkim”, com a magistral sequencia na escadaria Odessa. Outros pioneiros na arte da “montagem dinâmica” foram Alexander Dovzhenko, com sua ode a Ucrânica, “A Terra”, e Dziga Vertov, com uma obra paradigmática, “O Homem com uma Câmera”.

Essa concepção de montagem traz a idéia de que cada plano deve funcionar como atração principal, introduzindo dinamismo e ritmo ao filme. Cortes rápidos e sonoridades fortes constroem um mosaico altamente impactantes, privilegiando um conflito semiótico entre as cenas.

Juntamente com a “Montagem Orgânica e Paralela” de Griffith, esta organização Eisenstasiana, forma uma enciclopédia para qualquer tema ligado ao audiovisual hodiernamente.
E um ensaio clássico, Eisenstein compara a montagem com os Ideogramas japoneses. Traçando dualidades entre o sistema de escrita japonês e a construção de uma obra cinematográfica.

“A questão é que a união de dois hieróglifos das séries mais simples deve ser encarada, não como sendo a sua soma, mas como o seu produto, isto é, um valor de outra dimensão, de outro grau. Isto é Montagem. Sim, exatamente o que fazemos no cinema, ao combinar dois planos que são descritivos, de significação singela, para criar sucessões de contextos intelectuais”, afirma o autor.

A Modernidade e Seus Novos Paradigmas

Como dito no primeiro trecho, a emergência de sociedade midiática, calcou a metade final do século XX. Assim, na ebulição da Indústria Cultural (Escola de Frankfurt) era preciso começar a construir artes mais “digestivas” do ponto de vista intelectivo e a fusão dos meios foi fator primordial neste processo.

O vídeo, por exemplo, alterou a subjetivo do espectador diante dos filmes. Substitui-se o tempo “tirânico” do cinema, doando, ao espectador, uma prática democrática, ou seja, ele se torna senhor do tempo e do espaço. Com isso, o olhar perdeu perplexidade.

As novas tecnologias, apesar das benesses indubitáveis, são tão carregadas de obsolescência planejada que não deixam seus moderadores a usarem até o esgotamento prático das mesmas. Basta exemplificar o tempo de cada forma de se fazer cinema. Ficamos décadas nos rolos, passando pelo vídeo (ainda com alguma demora), apenas alguns anos pelo DVD e já caímos na filmagem digital (HD). Assim sendo, não há uma utilização plena dos mecanismos que se dispõe entre os meios.

Apesar de alguns suspiros, a narrativa cinematográfica acaba “matando” a cinepoética. A criação de uma fórmula folhetinesca de se fazer cinema, apesar de se utilizar das montagens de Eisenstein e Griffith, acabam por linearizar a formação de um pensamento crítico mais interpretativo, imaginativo e intelectivo.